O
Instituto Camões, entidade que muito luta para divulgar a língua e cultura
portuguesas no Mundo, teve e gentileza de me convidar, recentemente, para uma
conferência em Andorra, dirigida a lusodescendentes. Território de forte
emigração, a ideia era reforçar os laços dos jovens com a sua cultura de
origem. Mas o que mais me tocou ali foi perceber os esforços inabaláveis de
famílias portuguesas para protegerem a língua materna junto dos filhos,
reivindicando, das entidades anfitriãs, o ensino do português para eles nas
escolas locais.
E esta não
é uma luta isolada. Dias depois, as conversações entre os presidentes Marcelo e
Hollande, na visita deste a Portugal, privilegiavam um sentido idêntico:
integrar o ensino da língua portuguesa no sistema curricular do ensino francês,
satisfazendo os anseios e reivindicações dos emigrantes. Entretanto, na
Alemanha, já se avançou mais. Muitas escolas do ensino Básico oficial têm
turmas bilingues, com professores de português inseridos na escola pública e aí
colocados através de concursos do Estado português. Um Estado que hoje possui
um total de 815 professores em 23 países para garantir que a chama da
língua-pátria se mantenha viçosa, também entre os nossos emigrantes. Mas mais
que louvar o Estado por esse esforço, há que louvar as famílias quando mostram
esmerar-se para que os seus filhos, portugueses também, não deixem de honrar a
sua língua, usando-a como veículo privilegiado de comunicação.
Infelizmente,
nem sempre esse esmero é claro. Fui há dias a uma dessas romarias de aldeia,
onde gosto de saborear o aroma da tradição, seja no rigor e colorido das
procissões, seja na expressão singular das gentes, na música, na poeira dos
caminhos, nos negócios de gado, nas barracas de comes e bebes... E, de repente,
já mal sabia em que país estava. As vozes e diálogos que imperavam,
contrariando o próprio espírito etnográfico da festa, eram já uma amálgama
densa de loquacidades francófonas.
São
portugueses. Amam a pátria, bem o sabemos. Mas ver famílias portuguesas (e no
seu próprio país!) eximindo-se do uso da língua materna é um paradoxo. Como
podem reivindicar dos estados (o nosso e o anfitrião) o ensino do português
para os filhos, se no seio da família não usam a língua que exigem ser ensinada
nas escolas?
E não
esquecer nunca que o português não é uma língua qualquer: é a quinta língua
mais falada no Mundo!
AP
in JORNAL DE NOTÍCIAS
(21.8.2016)