Está prestes a arrancar mais um ano
letivo. Que professores irão os alunos encontrar quando regressarem à escola?
Sabe-se, pelas estatísticas recentes do Ministério da Educação, que, num
universo de 130 mil professores, apenas 500 têm menos de 30 anos. O grosso da
classe docente está, por isso, a chegar à idade “sénior”, a idade dos avós. Não
se pode dizer que tal seja absolutamente negativo. Ser depositário e
transmissor de saberes experienciados e acumulados, de métodos testados no
tempo, de memórias e valores intergeracionais, tem um valor incalculável que as
sociedades modernas, infelizmente, não souberam ainda potenciar. Mas fazer
depender de uma classe “sénior”, cansada e gasta, a sobrevivência de um sistema
em permanente e vertiginosa mutação é um contrassenso.
As
crianças e jovens estão hoje dominados pelas novas tecnologias. Regressam de
férias com uma energia ritmada e “educada” pelos passatempos mais estranhos e
complexos que a imaginação suporta: são os pokémons mais os pikachus, os
universos star wars, o super-mário ou os super-ninjas, são as lutas de zombies,
os ninjago, dragon balls, monster high, power rangers… (o que sei eu, afinal?).
E chegados à escola, que motivação encontram?
O
sistema necessita de professores mais jovens. Impõe-se dar oportunidade aos que
acabam de sair das universidades, e que, na sua formação ou nos estágios, já
convivem com esta nova realidade. Não serão, por isso, surpreendidos pelos
novos “saberes” dos alunos. São professores com energia, com dinamismo, com
competência e com tempo, que, harmonizados com o caudal de sabedoria e
experiência pedagógica dos professores “seniores”, contribuirão, certamente,
para que os alunos não vejam no ambiente escolar uma “seca”.
A experiência dos anos é uma
mais-valia, claro que é. Mas será que equipas pedagógicas quase integralmente
formadas por professores de idade, a sonhar com a aposentação, conseguem dar a
resposta adequada a turmas cada vez mais numerosas, com alunos cada vez mais
irreverentes e indisciplinados e profundamente dependentes das novas
tecnologias?
Dentro de uma década quase metade da
classe estará à beira da idade da reforma, mas nem então se perspetiva a
necessária renovação, uma vez que os novos professores recrutados são quase tão
velhos quanto os que já integram os quadros. E o reverso da medalha são os
milhares de jovens docentes que ano após ano terminam os seus cursos e ficam no
desemprego, obrigados a procurar outros caminhos.
(AP)
in Jornal de Notícias, 3-9-2016