Sentenças
que ficam na memória depois de tudo o que vai esquecendo, os provérbios
condensam, por isso, saberes do povo antigo. Saberes vividos, experienciados,
testados na cosmogonia, autorizados pelo tempo. O que há então a esperar do mês
de abril? “Águas mil”, pois claro, “quantas mais puderem vir”… mas “peneiradas por um mandil”. Um mandil é o
pano grosseiro com que as mulheres transmontanas faziam os aventais. Por isso,
é bom que a chuva venha, de preferência muita e constante, mas que venha bem
doseada, de pingas mansas e finas para que penetre lentamente na terra sem destruir
os renovos.
Ou
seja, a natureza em abril faz o seu trabalho: “Por onde a água de abril passou, tudo espigou” e “a água em abril carrega o carro e o carril”
ou “abril frio e molhado, enche o celeiro
e farta o gado”.
É,
por isso, um tempo de bonança para o homem, que sempre pode ficar mais tempo em
casa, à lareira, a descansar. Daí o provérbio “em abril queima a velha o carro e o carril”. E também: “em abril, queima o velho o carro e o carril,
e a canga que ficou logo em maio a queimou” ou “em abril dorme o criado mandrião, e em maio dorme o criado e o patrão”.
Depois, é ver o resultado: “Em abril,
cada pulga dá mil”.
E
o estômago que se cuide: “Quem come
caracóis em abril, prepare a cera e o panil” (pois bem sabe este povo que
os caracóis, colhidos sob a terra enlameada, são iguaria traiçoeira).
Quanto
às geadas, nem é bom falar: “A geada de
março tira o pão do baraço e a de abril nem ao baraço o deixa ir”.
E
se estes ditames meteorológicos não se cumprirem? Então… “se não chover entre março e abril, dará o rei a filha a quem a pedir”.
Saberes
do povo. Saberes de gente sábia.
(ap)