António Marinho, assim
o tratávamos quando colegas de jornalismo na antiga agência ANOP (onde comecei já
lá vão mais de 30 anos), que fez o liceu em Vila Real (o mesmo onde também fui aluno
e depois professor), e cujas intervenções públicas geralmente aprecio,
despertou-me hoje alguma pena, na entrevista à SIC, ao mostrar-se indignado com
o salário de 18 mil euros mensais que lhe está a ser depositado na conta como eurodeputado.
“Acho ignóbil que um deputado europeu receba mais de 18 mil euros por mês para
representar o povo português, onde o salário mínimo é inferior a 500 euros”,
assim o disse. E disse também que faz tal denúncia porque “a consciência diz
para o fazer”.
Mas que diabo! Por que
há de o eurodeputado estar com tamanho peso de consciência? Tem uma boa
solução: o que lhe sobrar, isto é, o que lhe for além do que é humana e
moralmente aceitável, deposita-o na conta de uma destas ONG’s que vivem de
voluntariado, de gente que trabalha para ajudar os outros sem auferir um
tostão. Talvez outros eurodeputados, que comunguem da mesma indignação, lhe sigam
o exemplo. Podiam até formar uma plêiade de eurodeputados em regime de
voluntariado.
Por que não ajudar, por
exemplo, a HELPSOL de Vila Real? Uma ONG, lançada por voluntários, jovens
universitários, professores, pessoas generosas, dedicadas, norteadas apenas por
valores éticos profundos, que outra coisa não fazem senão ajudar. Ajudam
crianças pobres, órfãs de guerra e sida em África enviando livros, manuais
escolares e materiais didáticos que eles próprios elaboram. Ajudam idosos
mergulhados na solidão das aldeias, ajudam crianças hospitalizadas (ofereceram
no Dia Mundial da Criança, uma biblioteca infanto-juvenil à unidade de
pediatria do Hospital de Vila Real). E não auferem qualquer salário (alguns dos
jovens até estão desempregados, e bem jeito lhes daria pelo menos um salário
mínimo…). Mas, pelo menos, a consciência não lhes pesa. Afinal, não há melhor
forma de sentir a consciência leve quando ajudamos quem mais precisa.
Alexandre Parafita