Tenho um apreço
especial pelos transmontanos que sobem a pulso. Muitos têm histórias de vida
notáveis para contar, e já escrevi biografias sobre alguns. Conheci Armando
Vara, já lá vão quase trinta anos, nos meus tempos de jornalismo. Tinha ele
acabado de ser eleito deputado. E diziam-me então em Vinhais: “Aos 14 anos,
trabalhava numa mercearia da vila, e veja só até onde chegou!”. Por essa razão,
lembro-me bem, era o ídolo de muitos “jotinhas”, que, já então, sonhavam alto
enquanto dirimiam a puberdade na sombra dos partidos. Conhecendo ele as agruras
da infância, as privações de uma pequena aldeia onde nasceu, os anseios de uma
região deprimida… que melhor se poderia esperar, afinal, de um jovem deputado
da nação? Não se deslumbrou, porém, com esse desafio. E tão-pouco com as velhas
máximas dos sábios transmontanos, que muito lhe valeriam se as levasse na
maleta quando embarcou, qual Calisto Elói, para a capital do reino: “Deus dá a
roupa consoante o frio”, ou então “Antes burro que me carregue que cavalo que
me derrube”.
Com estas lições
aprendidas, certamente evitaria um tombo tão grande.
Alexandre Parafita