Ontem,
17 de janeiro, 19 anos após a sua morte, Sabrosa homenageou Torga com muita
dignidade. Falou-se muito da sua obra e da sua vida. As suas obras mais
emblemáticas (Bichos, Contos da Montanha, Novos Contos da Montanha, Diários, Vindima…)
são verdadeiros hinos à cultura do povo, aos seus instintos de sobrevivência,
retratando a dureza do mundo rural transmontano, o confronto do homem com as
leis divinas e terrestres que o aprisionam.
Mas ficou sobretudo claro que estas
celebrações têm de servir, não apenas para reforçar o conhecimento e o estudo
da obra de Torga, mas também para enaltecer e enobrecer todo este território
que lhe serviu de berço e de inspiração. Não pode permitir-se, por exemplo, que
continuem a difundir-se, nos jornais, nos livros e na net, frases como: “nascido
em São Martinho de Anta, aldeola perdida na província nordestina de
Trás-os-Montes”. S. Martinho de Anta não é aldeola nem aldeia. É uma vila respeitável
e não está perdida. Pelo contrário: é uma das mais bem localizadas de Trás-os-Montes.
Muitos
jovens atenciosos, ávidos de memórias sobre o escritor, queriam saber tudo. O
presidente da Junta de Freguesia de S. Martinho de Anta, José Luis Gonçalves, aproveitou
para transmitir aos jovens a grande mensagem de Torga, recordando como a
recebeu, ele próprio, em rapaz. Quando foi anunciado nos jornais que iria aos Açores receber
um prémio, disse-lhe o Zé Luís: “Então mais um prémio, sr. doutor?”. E ele: “E sabes por
que recebo este prémio, rapaz? Porque nunca transigi.”
Alexandre Parafita