[E com elas todos os cuidados são poucos. Diz a
tradição que vão bailar nas noites de Sexta-Feira. Umas vão pelo ar, nas suas
vassouras, sempre por cima de pinhais e silveirais para não se picarem, outras vão
por terra, transformadas em animais: galinhas, patos, porcos. E aos locais onde
realizam os seus encontros o povo atribui nomes curiosos: “terreiro das bruxas”,
“piso das bruxas”, “assembleia das bruxas”, “clareira das bruxas”... ou então “ermo
das bruxas”, como no caso da história que segue, narrada como verdadeira]
–
Nem das bruxas do “ermo”? – perguntaram-lhe um dia.
–
Das bruxas?! – dizia ele. – Elas que me apareçam à frente e hão-de ver a que
terra vão parar!
Acontece
que, nessa mesma noite, o rapaz saiu de casa como era costume fazer, e, ao dar
a meia-noite na torre da igreja, ia ele a passar no largo da aldeia. Nesse
exacto momento, atravessou-se na sua frente um vulto preto, que lhe pareceu um
porco. E disse para consigo:
– Quem terá deixado fugir este porco?
Pôs-se então a correr atrás dele para o agarrar. Mas quanto mais corria, mais o animal corria também. Por isso não havia maneira de o apanhar. E tanto correu, tanto correu, sempre atrás dele, que acabou por ir parar ao dito “ermo das bruxas”, onde foi encontrar outros porcos e porcas à espera. Nesse momento, todos os animais se puseram a correr em círculo à volta do rapaz, rindo em altas gargalhadas e chamando pelo seu nome. Conheciam-no, portanto.
– Quem terá deixado fugir este porco?
Pôs-se então a correr atrás dele para o agarrar. Mas quanto mais corria, mais o animal corria também. Por isso não havia maneira de o apanhar. E tanto correu, tanto correu, sempre atrás dele, que acabou por ir parar ao dito “ermo das bruxas”, onde foi encontrar outros porcos e porcas à espera. Nesse momento, todos os animais se puseram a correr em círculo à volta do rapaz, rindo em altas gargalhadas e chamando pelo seu nome. Conheciam-no, portanto.
Conta-se
que o moço teve tanto medo, que até fez o sinal da cruz para pedir o auxílio de
Deus. E que, ao fazer o sinal da cruz, o círculo dos porcos desfez-se de
repente e todos os animais debandaram dali como relâmpagos. Só então ele pôde
regressar a casa. Desde esse dia nunca mais o moço andou na rua fora de horas,
nem o voltaram a ouvir gabar-se da sua exagerada valentia.
(Fonte: PARAFITA, A. – Bruxas, Feiticeiras e suas
Maroteiras, Lisboa, Texto Editores, 2003).
Alexandre Parafita