Muitas tradições se vão
perdendo em Trás-os-Montes! É o caso daquela que é conhecida como a festa do “pau
das almas”. Os rapazes na manhã do feriado de 1 de novembro (dia de todos os
santos), iam ao monte cortar e apanhar um carro de lenha, que à tarde era
leiloada no adro da igreja, sendo a receita aplicada no dia seguinte (dia de
fiéis e defuntos) na celebração de missas e ofícios em memória das almas do
Purgatório. Mantém-se ainda o “pão das almas” e o “pão do defunto”. O primeiro
é uma esmola distribuída, no dia dos fiéis e defuntos, aos pobres que se
concentram à porta do cemitério a rezar pelas almas do Purgatório. O segundo é
uma última refeição que o falecido “oferece” às pessoas que se incorporaram no
seu funeral, em jeito de agradecimento pelas preces de cada um, que “o ajudarão
a tornar mais leves as suas penas no Além”.
Em muitas aldeias
persiste a crença nas “procissões das almas”, um desfile macabro, que sai à
meia-noite do adro da igreja e percorre, de cruzeiro em cruzeiro, as ruas e
caminhos da povoação. Esta procissão anuncia a morte próxima de um vizinho. Crê-se
também que as almas surgem aos vivos, sob formas diversas (gritos, suspiros, gemidos,
redemoinhos, animais…), em apelo pelo cumprimento de preces e promessas não
cumpridas. E que os vivos, perante tal visão, devem fazer o sinal da cruz e
dizer: “Se és alma do outro mundo, diz ao que vens; se és o demónio, vai bater
a outra porta”, ou então: “Se és alma do outro mundo, diz ao que vens; se não
és, vai para o raio que te parta!”
(Fonte: PARAFITA, A. – O Maravilhoso Popular, Lisboa, Plátano Editora, 2000)
Alexandre Parafita