Numa entrevista recente
ao Notícias de Vila Real dizia: “Sinto-me como os novos,
com a capacidade de trabalho dos novos, senão até mais”. E tinha toda a razão. Quase até
ao fim dos seus dias, e de forma graciosa, foi responsável da contabilidade do
Colégio da Boavista, do Lar de Nossa Senhora das Dores e grande dinamizador dos
coros da Sé e da Casa do Professor, frequentando ainda a Escola Real de Música.
António Alves Miranda faleceu esta madrugada com 87 anos.
Vila Real deve muito
a este homem! Entre muitas obras em prol da solidariedade, dos mais pobres, dos
desprotegidos, fica a dever-lhe aquela que é hoje uma das maiores referências
do ensino em Portugal: o Colégio da Boavista.
Há meio século,
quando muitos homens e mulheres emigravam para equilibrarem as suas vidas, os
filhos ficavam, confiadamente, aos cuidados do colégio como internos. Porém o
dinheiro era escasso. Não chegava para alimentar tantas bocas e pagar a
professores. Esteve, pois, para fechar portas, não fora o sentido cristão, altruísta
e generoso do seu dedicado tesoureiro, que, receando pelo futuro de tantos adolescentes,
desamparados e sem as famílias perto, assumiu ele próprio as funções de professor, contínuo e administrador. Visitou
um a um todos os credores, assumiu com eles compromissos pessoais, pediu todos os auxílios
possíveis à comunidade local, e só assim conseguiu reerguer das ruínas a
instituição.
O pior é que o
coração bom também tem as suas fraquezas. O seu traiu-o esta madrugada. Aqui
deixo o mais sentido pesar à sua família e um beijinho muito especial de conforto
à minha querida irmã, Idalina, sua nora, que o acompanhou nos últimos momentos,
com o amor e ternura do tamanho do mundo que todos bem lhe conhecemos.
Alexandre Parafita