quarta-feira, 22 de maio de 2013

Vem aí mais um atentado à nossa cultura!


Portugal, após o terem feito, com sucesso, países como Espanha, Itália, Grécia e Marrocos, resolveu, agora também, propor à UNESCO a classificação da dieta mediterrânica como Património Imaterial da Humanidade. A Ministra da Agricultura, Assunção Cristas, lá estava, muito empolgada, a dar a cara pela candidatura.
É este um Portugal que se expõe sempre a reboque dos outros, sem ousadia, sem inovação (quando teve oportunidade de avançar com a candidatura das Tradições Orais Galego-Portuguesas [e aí sim, ousado, inovador] assobiou para o lado…), depois concentrou todas as energias na classificação de um património que não está nem estará tão cedo em risco (o fado), ignorando a necessidade de salvaguarda do património imaterial profundo (tradições orais, lugares de memória, cancioneiros, romanceiros...) que está efetivamente em risco por força do desaparecimento dos seus intérpretes e dos contextos antropológicos que os vêm mantendo.
Finalmente, um outro património, nosso, ancestral – as nossas sementes tradicionais-, está seriamente ameaçado, e que fazem os nossos governantes? Que diz sobre isso a Ministra Assunção Cristas? Na verdade, prepara-se o Parlamento Europeu para ilegalizar a troca e comercialização das sementes tradicionais, que compõem a nossa agrobiodiversidade, ignorando-se usos e práticas milenares, que sobreviveram e se enriqueceram de geração em geração. Todos os anos os lavradores guardam as sementes para uso nos anos seguintes, e quando o ano é mau e as sementes escasseiam, há sempre uma entreajuda entre os lavradores que trocam e negoceiam as suas reservas. Pôr tudo isto em causa é um atentado à nossa memória coletiva, ao nosso património imaterial. O país rural tem cerca de duas mil variedades de sementes, identificadas num banco de dados. A quem pode interessar que se desbarate este património?
Será que a energia “intelectual” que se concentrou no fado em 2011, vai agora, toda ela, ser transferida para as “papas de sarrabulho” da nossa dieta, ficando ignorado o património intangível representado pelo uso das nossas sementes?
Alexandre Parafita