Já não há estudos académicos que nos
possam surpreender. As sociedades desenvolvidas estão, de facto, a tornar-se
sociedades envelhecidas. O aumento da esperança de vida em conjugação com a
queda da natalidade apresenta-nos um cenário real, irrefutável, de
envelhecimento da população. Em Portugal as projeções indicam que em 2060
existirão três idosos para apenas um jovem, numa esperança média de vida de 81
anos. Metade da população terá mais de 65. Este aumento exponencial da
população idosa, acompanhado pela diminuição desmesurada da população jovem
ativa (seja pela baixa natalidade, seja pela
crescente emigração dos jovens face à escassez de oportunidades no seu país), leva,
já hoje, a questionar sobre quem no futuro prestará os cuidados necessários aos
idosos. Quem os acomodará na sua velhice, tal como eles o fizeram, antes, com
os seus idosos? Haverá sequer mão-de-obra especializada suficiente?
Foi certamente com o desassossego posto
nesta visão prospetiva dos idosos da sociedade do futuro que o jovem Leonel
Crisóstomo, estudante da UTAD, deitou mãos à obra e, com o auxílio dos seus
professores, desenvolveu uma aplicação informática que permite a um robô auxiliar
os idosos em algumas das suas funções essenciais. Por exemplo, na toma correta
da medicação. Os testes foram aplicados com sucesso em dois lares de Vila Real.
O robô usa o seu sistema de locomoção para se movimentar até ao idoso e,
através de visão por computador, deteta a embalagem de um medicamento e identifica
a pessoa que o deve tomar no horário correto. Eficácia total.
A Dona Adelaide, muito lúcida nos seus
89 anos, primeiro olhou-o desconfiada (um “extraterrestre” aqui ao meu serviço?!).
Depois, com um leve sorriso, acariciou-o numa cumplicidade afetuosa.
in Jornal de Notícias, 8-5-2019