(foto de Antero Neto)
Hoje é a noite da
“serrada da velha”. A tradição manda que aconteça, exatamente, na 4ª feira do
meio da Quaresma. Hoje, portanto. “Chorai, netinhos, chorai!”… é como se entoa no
ritual.
E
quem é, afinal, esta “velha” (que traz consigo resquícios do culto pagão de esconjuro
das trevas invernais, da esterilidade dos campos, almejando o rumo da luz
esperançosa da primavera, o tempo da fecundação e procriação)?
Trata-se, na verdade,
de uma figura simbólica, uma entidade mítica (tal como a do “arco da velha”, designação
popular do “arco-íris”…), conotada com as agruras da fome, privações, jejuns, repreensões
e penitências quaresmais. A “velha” é, pois, a Quaresma. Serrar a velha é
serrar a Quaresma ao meio, em rituais protagonizados por adolescentes com atos
de rebeldia contra os rigores e a censura impostos pela Quaresma. Atos de
rebeldia que apenas recaem sobre as senhoras idosas quando se reconhece serem
elas as guardiãs das mais respeitosas imposições dos bons costumes locais.
Em Trás-os-Montes
serra-se um “toro” à porta dessas senhoras, razão por que os respetivos versos têm
o nome de “toradas”.
(ap)