Desgraçadamente,
tornam-se sempre necessárias grandes tragédias para chamar a debate questões
que a sociedade devia ter permanentemente na ordem do dia. Veja-se os problemas
da floresta, os incêndios, o ordenamento do território. Pior que isso ainda é
constatar que, passado o impacto das tragédias e o habitual período de nojo, a
emoção dos afetos esmorece, dilui-se a pressão da emergência, e tudo volta a
correr como se nada se passasse, com o silêncio a abrir portas (viu-se agora em
Pedrógão Grande) a estranhos oportunismos.
Mas não
menos inquietante é a incapacidade, nesta aldeia global, de não colherem
proveito, em outros países, as lições desafortunadamente aprendidas por nós.
Assim se viu na tragédia dos incêndios da Grécia. O “local sem paredes” de
Torga parece ter ficado pela emoção mediática que correu e avassalou à
velocidade da luz. As grandes lições, os debates na comunidade científica,
parece não terem ultrapassado essas paredes. Continuou a assistir-se aos
efeitos da falta de ordenamento do território, a floresta a cavalgar para as
zonas urbanas e estas para a floresta. Também a Proteção Civil podia ter
corrigido falhas do passado em cenário trágico idêntico, apontadas em devido
tempo por peritos portugueses, que, face à desorientação dos bombeiros, chegaram
eles próprios a pegar em mangueiras.
Mas por
cá, outras desorientações nos inquietam. Soube-se por estes dias que o prazo de
julho para apresentação do plano de reflorestação da Mata Nacional de Leiria
destruída pelo fogo no ano passado não se cumpriu, sendo adiado para o próximo
ano. Bem sabemos que para os planos de intervenção e gestão florestal são precisos
engºs florestais. Mas onde estão eles, se o país está a formar menos de dez por
ano? A UTAD oferece um curso de referência em Portugal e na Europa, mas as
vagas de candidatos ficam, ano após ano, longe de encher. Se o Estado considera
esta área de formação como estratégica, onde estão as medidas de incentivo? E
bolsas de estudo para alunos mais carenciados que possam interessar-se pela
Engª Florestal?
Inquieta-nos
a ideia de que, em breve, Portugal tenha de contratar engenheiros florestais no
estrangeiro.
(ap)
in JORNAL DE NOTÍCIAS, 28-7-2018