Na mesma altura em que o Governo, em
mais uma das suas toadas esperançosas, anunciava um Conselho de Ministros
Extraordinário para aprovar medidas de ordenamento e coesão territorial,
escolhendo Pampilhosa da Serra como palco simbólico, para, desse jeito,
reafirmar o propagandístico e ilusório emblema “todos somos interior”…, na
mesma altura, dizia eu, tornava-se conhecida a decisão governamental de
encerrar o Colégio Salesiano de Poiares, no distrito de Vila Real, uma
instituição de referência no interior, considerada, há décadas, um dos seus pilares
de formação cívica e cultural. São afetados 225 alunos, 25 funcionários e 21
professores, que asseguravam os 2º e 3º ciclos e cursos profissionais em regime
de externato e internato. Era o principal motor social e económico de uma
comunidade no coração do Douro Vinhateiro Património Mundial. Mais de metade
dos alunos recebia apoio social escolar, pelo que, com o seu encerramento, quem
perde são os mais pobres, sempre os mais pobres, deste interior já empobrecido.
Como diria o outro: bem prega Frei
Tomás! Que o mesmo é dizer: bem prega António Costa!
O próprio bispo de Vila Real, D.
Amândio Tomás, pessoa geralmente reservada e discreta, não conteve a revolta ao
qualificar como “ditatorial e irresponsável” tal decisão, acusando o Estado de estar
a preparar o “funeral do interior”. “Resta a submissão à decisão de não
permitir outra alternativa ao que o Estado soberanamente decidir, ainda que se
saiba que decide mal e, desgraçadamente, decida contra os pobres, porque são
estes sempre a sofrer”, escreve o bispo na sua nota episcopal.
Num cenário destes, com o país a ser
gerido dos gabinetes de Lisboa, e a falarem do interior sempre com um hálito
demagógico na boca, o que valem alertas como o do autarca de Vila Real, Rui
Santos, ao lembrar que a população no litoral ultrapassa hoje os 52% enquanto
no interior baixou 38%, com a agravante de que 82,4% dos jovens, com menos de
25 anos, vive também no litoral?
in Jornal de Notícias, 20-7-2018