Ainda que o calendário
as aproxime, a festa da “Cabra e do Canhoto” em Cidões, Vinhais (na noite de 29
de outubro), nada tem a ver com a noite do Halloween, ou com qualquer outra
americanice que o cinema inventou.
Trata-se, pois, de uma
das mais resistentes celebrações transmontanas ligada à cultura celta, a marcar
a aproximação do inverno. A gigantesca fogueira, onde é queimado um enorme e chifrudo
“canhoto” (que simboliza o Diabo) e onde é cozida uma sinistra “cabra machorra”,
velha e intragável (que simboliza a mulher infértil do dito), representa toda a
energia catártica de um povo sofrido que se prepara para mais um inverno longo,
frio e negro, e, simultaneamente, procura defesas contra os espíritos malignos travestidos
nestas duas figuras. Na fogueira esconjuram-se, assim, as tentações maléficas, os
maus-olhados, os medos e as invejas.
São estes velhos mitos
que com os seus ritos continuam a dar um sentido nobre à cultura transmontana.