Senhor dos Passos de Sabrosa
Em muitas
comunidades transmontanas celebra-se nestes dias a tradição das Endoenças, um
ritual carregado de emoção, especialmente em Vinhais, quando narra a procura
desesperada de Cristo por Nossa Senhora, ora seguindo pelas ruas o seu rasto de
sangue, ora perguntando a uns e outros se alguém o viu.
Mas endoenças é
sinónimo de indulgências, portanto remissão de pecados, uma prática que noutros
tempos adotava rituais expiatórios tenebrosos, com autoflagelação pública nas
procissões. A memória dos povos não apagou ainda os cortejos de penitentes e
flagelados da “Quinta-feira de Endoenças”. Pessoas que aliviavam a consciência
pesada das suas culpas procurando imitar o sofrimento infligido a Cristo pelas
culpas do mundo. Por isso se autoflagelavam nas procissões. E ao seu lado
seguiam familiares com bacias e panos para evitar que o sangue da
autoflagelação fosse derramado no chão.
Em algumas
aldeias transmontanas o rigor da Semana Santa ainda hoje é respeitado com a
máxima devoção e fé. Ao meio dia de quinta-feira toca o sino e as pessoas param
por completo de trabalhar mal ouvem soar a primeira badalada. Com exceção dos
mínimos afazeres domésticos, ninguém trabalha até sábado à mesma hora. De
assinalar também que, nesse período de tempo, há pessoas idosas que não se
penteiam (porque podem “arrepelar Nosso Senhor”), não cozem pão porque dizem
que aparece sangue na massa ou nas broas (é o “sangue de Nosso Senhor”), não
lavam a roupa porque dizem que aparecem manchas de sangue nos panos (as “chagas
de Nosso Senhor”).
AP