Faz hoje (17-1-2016) 21 anos que morreu. Coube-me, há 21 anos atrás, enquanto jornalista,
fazer a cobertura do funeral na pequena aldeia transmontana. Na porta do
cemitério, à viúva, entre os gestos e palavras de conforto que a rodeavam,
alguém perguntava: “Como acha que Miguel Torga desejaria ser recordado?”. A
resposta foi apenas: “Leiam-no e estudem-no nas escolas”.
Um apelo que parecia então escusado. Todos nós, que nos
fizemos gente antes desses 21 anos, crescemos dentro dos seus versos. Mas tinha
razão a viúva de Torga. Mal o poeta fechou os olhos, o seu nome foi caindo no
esquecimento. À popularidade de que usufruía em vida, observador interventivo
que era, depressa se tornou no escritor “mal-amado”, praticamente retirado do
universo escolar. O seu teatro e a sua poesia já não moram nos manuais. Alguns
dos seus versos apenas têm tímidas e diluídas aparições em obscuras “metas” de
aprendizagem sem explícito empenho na sua leitura. O compadrio das elites
ditou-lhe o obscurecimento mediático quando entrou na moda um snobismo cultural
que se agarra às frivolidades das grandes urbes, atirando para a valeta tudo o
que soa a etnicidade, a rural, a provinciano. Miguel Torga pagou caro por isso.
O seu nome soçobrou no emaranhado de corporações que se movem no reino da
cultura em Portugal. Que vozes se ergueram quando o seu nome foi ignorado na
famosa obra Século de Ouro - Antologia crítica da poesia portuguesa do século XX, organizada em
torno das escolhas de 73 ensaístas da nossa melhor linhagem intelectual?
Resta-nos a nós, transmontanos, continuar a honrá-lo como ícone maior da nossa identidade e da nossa cultura.
Resta-nos a nós, transmontanos, continuar a honrá-lo como ícone maior da nossa identidade e da nossa cultura.
AP
in Diário de Trás-os-Montes