quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Quando nasceu a primeira narrativa do Homem?


Miguel Real, um dos grandes pensadores do nosso tempo, deu a resposta ontem na UTAD à pergunta que está em título. A relação do homem primitivo com o mundo, fundada e mediada pela emoção, mas sobretudo a noção de que a consciência emotiva é uma consciência emergente em estado puro (uma “consciência animal”), colocam a espécie humana sob a inquietação de quatro “fontes do mal”: a carência, a dor física, a dor psíquica e a morte. E é quando essa inquietação deixa de existir que nasce o sorriso e a alegria, mas sempre na contingência de que tudo é precário, ou seja, “tudo o que há, pode deixar de haver”. Assim, ao deslumbramento do dia sucede a angústia da escuridão, uma escuridão que é também potenciadora de todos os medos. Porém, a sublimar essa inquietação do medo, aparece a lua. Terá dito então o homem primitivo (o “Homo erectus”) na sua própria linguagem: “A lua é-nos afeiçoada, é nossa amiga, ela aparece para iluminar-nos”. Aqui residiu, segundo Miguel Real, a primeira narrativa.
(ap)