sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Quem vai sentar-se no banco dos réus?


Voltam a ser notícia as praxes. Dizem os jornais que quatro estudantes da Universidade do Minho acabam de ser constituídos arguidos sob a acusação de homicídio por negligência na morte de três colegas num cenário de “guerra de praxes” de que muito se falou em abril de 2014.
Não vejo, contudo, à luz de outras experiências em julgamentos desta natureza, que tipo de pena o Estado possa vir a aplicar a estes jovens. De todo o modo, também tenho dúvidas de que sejam eles os únicos culpados nesta tragédia e também me repugna que venham a ser uma espécie de “bodes expiatórios” numa onda de revanchismo social contra os excessos das praxes a que ano após ano a própria sociedade e as suas instituições continuam a fechar os olhos.
Por isso, a maior valia deste julgamento, mais do que a aplicação de uma pena objetiva a estes jovens, poderá estar na reflexão exemplar que venha a gerar nas instituições responsáveis (a começar nas associações académicas) sobre o sentido real das praxes, procurando que elas, a existirem, recuperem o seu sentido original e sejam um processo civilizado de pedagogia urbana na integração dos novos alunos nas academias e na vida social envolvente. As praxes académicas existem em todos os países. Mas nos que são realmente civilizados, continuam a processar-se através da prática de atividades desportivas, culturais, de solidariedade e, acima de tudo, de culto da cidadania.
AP