domingo, 14 de junho de 2015

Em Lisboa não sabem…

(imagens de "vezeiras" em fotos de Daniela Araújo)
 
Leio estas coisas e quase não acredito: «Rebanho coletivo ganha primeiro prémio de concurso de ideias portuguesas” (promovido pela Fundação Gulbenkian). Assim noticiava ontem o Público. Ou seja: a ideia mais inovadora de 2015 em Portugal foi a “invenção” de um rebanho coletivo!
 
Em Lisboa não sabem, é claro. Entretêm-se demasiado por lá com as revistas de Glamour e Jet Set. Se em vez disso lessem os livros e artigos de antropólogos e etnógrafos saberiam que no Barroso já vigora há séculos, como estratégia de empreendedorismo popular, o sistema do rebanho coletivo. Dá-se-lhe o nome de “vezeira”. É uma prática comunitária de junção dos rebanhos das aldeias para serem pastoreados em terrenos comuns: os “baldios”. Baseia-se no agrupamento de proprietários do gado, devidamente organizados, que seguem regras rigorosas, estabelecidas e transmitidas de geração em geração, e há sempre uma família que, à vez (daí o nome “vezeira”), assume a condução e a gestão do rebanho coletivo.
 
Tantas lições há ainda para aprender com este povo!
Alexandre Parafita
in Diário de Trás-os-Montes