(Foto de J.B.César)
As zonas mais a nordeste de
Trás-os-Montes entraram agora num longo período agreste, frio, ventoso, os tais
“nove meses de inverno” que sucedem aos “três de inferno”. E ai de quem não
tenha uma boa lareira à mão de semear! (“a
fome e o frio metem um homem em casa do inimigo”), sendo certo que o povo,
esse, está sempre prevenido: “Ande o frio
por onde andar, antes do natal cá vem parar”.
E quanto aos ventos? Nada melhor que
conhecer-lhes as linguagens. E o povo bem as conhece: “Com o vento de feição não há má navegação”, tal como, “se a aurora está ruiva, ou traz vento ou traz chuva” e “quando o vento vem
do mar na noite de S. João, lá se vai verão”. E outras verdades
imbatíveis: “Com o vento se limpa o trigo, e os
vícios com castigo” ou “amigos de
ocasião são como o bom tempo, mudam com o vento”.
A própria direção dos ventos é objeto de
sugestivas cautelas e interpretações, pois bem se sabe que “o
vento tanto junta a palha como a espalha” e “lugar ventoso, lugar sem repouso”. E se ele vem de todos os lados? Então é pior: “Vento
de todo o lado é mandado p’lo diabo”.
Por isso, o povo transmontano distingue
os ventos, conforme a sua intensidade e predominância: Vento de Noroeste, Vento
de Norte, Vento de Nordeste, Vento de Nascente e Vento de Sudoeste.
O Vento de Noroeste é também conhecido como “Vento de Lomba”,
em atenção ao nome da serra de onde provém. Embora não seja o pior de todos, o
povo qualifica-o assim: “Vento de Lomba, frio na tromba”.
O Vento de Norte é conhecido por “Vento Galego”. Quando ele
predomina, costuma o povo dizer: “Parece que pariu a galega”. É
pior que o anterior (“Vento norte, três dias forte”) e é também este que sustenta o famoso
provérbio “De Espanha, nem bom vento nem bom casamento”.
O Vento de Nordeste é chamado “Vento Cieiro” por ser muito
frio e seco. Vem dos lados de Vinhais, em especial da Serra de Montesinho, que
em Janeiro se cobre quase sempre de neve. Diz o povo: “Vento de Janeiro,
vento cieiro”. As pessoas quando se expõem demasiado a esse vento ficam com
cieiro nos lábios e nas mãos, daí o nome que lhe dão. É mais frio que o Vento
de Noroeste, o tal de Lomba, e por isso também há quem diga: “Vento de
Lomba, frio na tromba, mas se é de Vinhais ainda é mais”.
Por sua vez, o Vento de Nascente, conhecido igualmente por “Vento de Bragança”, não
é menos ruim que os anteriores (“Vento de leste não traz
nada que preste”).
Queima os renovos por onde passa. Diz o povo: “De Bragança vêm os
travessios”.
Quanto ao Vento de Sudoeste, também conhecido por “Vento de Vilartão”, dada
a localização geográfica desta aldeia, já não é tão gélido como os outros, mas
é mais húmido (“Água de vento
traz meio sustento”). Por isso se diz:
“Vento de Vilartão, água na mão”, e noutras paragens “Vento suão cria
palha e grão”.
Tanta coisa se pode aprender com este povo. É preciso apenas subir uns degraus para ficar ao seu nível.
(Bibliografia:
PARAFITA, A.; et al. – Os Provérbios e a
Cultura Popular, V.N.Gaia, Gailivro, 2007)
Alexandre Parafita