quarta-feira, 10 de abril de 2013

Uma biblioteca oral que se fechou

Graciano Augusto Morais faleceu neste fim-de-semana, com 92 anos, na aldeia de Espinhoso, do concelho de Vinhais. Não sabia ler nem escrever, mas profissões não lhe faltaram: criado de padre, tamanqueiro, sapateiro, cantoneiro, agricultor, entre outras.
 
Não conhecendo as letras, tinha, contudo, um recurso intelectual que geria como poucos: a sua memória. Foi por isso um grande narrador de memórias e um fabuloso contador de histórias. Sabia dizer de cor, nas versões originais, muitas peças do romanceiro que Almeida Garrett coligiu no séc. XIX (e chamava-lhes "canções das segadas"). Sabia narrar, nas versões transmontanas, grande parte dos contos populares que Aarne e Thompson classificaram no seu catálogo internacional em meados do século passado.
 
Felizmente, muito dos seus contos populares foram recolhidos e publicados em várias obras, como por exemplo nos dois volumes da “Antologia de Contos Populares”, de Alexandre Parafita (Plátano Editora), entre outras.
 
Muitas das suas histórias fazem também as delícias das crianças (exemplos: “O pato que ia para a festa de São Gabarito”, “A raposa, o galo e o “Solidó”, “O lobo, a velha e a cabaça”, “As feiticeiras e os vitelos”, “O jogador com pés de cabra”, etc.). E quase todas fazem parte de livros do PNL. Por isso, a companhia de teatro Filandorra criou a personagem do “Tio Graciano” com que, actualmente, leva as suas histórias às crianças pelas escolas e bibliotecas de todo o País.

 
Nota: Estas histórias para a infância encontram-se publicadas nos livros: “Contos de Animais como contaram aos pais dos nossos pais” (Trampolim); “Contos de Animais com Manhas de Gente” (Plátano Editora); “Bruxas, Feiticeiras e suas Maroteiras” (Texto Editores); “Contos ao Vento com Demónios Dentro” (Plátano Editora).