Neste
final de ano, como sempre gélido nestas paragens transmontanas, não resisto a
inspirar-me numa parábola do filósofo alemão Schopenhauer (1788-1860) sobre o
dilema dos ouriços:
Conta-se que
numa noite gelada de inverno, vários ouriços-cacheiros, vendo-se em risco
de morrer de frio, colaram-se uns nos outros para combatê-lo através do reforço
mútuo do calor que cada um conservava no seu minúsculo corpito. Porém, se era
certo que, quanto mais unidos estavam, melhor resistiam ao frio, também o era
que, desse jeito, a todo o momento se picavam com os espinhos. Assim, se por
momentos, se afastavam para não se ferirem, logo após cuidavam de se unir de
novo para continuarem a resistir àquele que era o perigo maior: morrer de frio.
Mas
faziam-no com uma certeza: esse sacrifício não era em vão. E era transitório, tinha os seus
limites previstos, pois logo, logo, o dia voltaria, voltaria o sol, e cada um
poderia ir à sua vida, enfrentar o futuro, alimentar os seus sonhos e projectos.
Era por isso um sacrifício necessário e útil. Mas sobretudo esperançoso. A
esperança é que os unia.
Porque
sem esperança nada se consegue. A noite eterniza-se e as angústias coabitam sempre com
os sacrifícios.