sábado, 29 de dezembro de 2012

A metáfora d“O burro do galego”



Já por aqui andei com a “metáfora dos ouriços”, e logo voz amiga cuidou de me alertar para um quadro de metaleituras ambíguas e complexas em que certas metáforas resultam. Mas que posso eu fazer? Se fui tocado pelo ADN dos velhos sábios transmontanos que as esgrimem quase tão bem como os sábios gregos? Veja-se esta do “burro do galego” (quem sabe o Pedro e o Vítor não aprendem com ela…?).

Conta-se em Trás-os-Montes que havia um moleiro galego que, ao sentir o seu negócio a andar ó pra trás, lembrou-se de que a culpa era do burro. Dizia que lhe andava a comer de mais. Achou, por isso, conveniente habituá-lo a comer menos. E foi o que fez. Todos os dias lhe ia diminuindo à ração, embora o trabalho continuasse a ser o mesmo. O galego, é claro, cada vez estava mais satisfeito com os resultados. Até porque, nesse andar, o burro acabou por se desabituar de comer, o que deixou o dono ainda mais satisfeito. O negócio agora era só lucro. Por fim, já sem forças pois não se alimentava, o burro morreu. E que aflição agora para o moleiro! Pôs-se então em altos gritos:
            – Ai, meu burrinho, meu burrinho,
agora que me estavas a render,
é que te lembrou de morrer!
Alexandre Parafita