terça-feira, 27 de agosto de 2024

Portugal a ficar sem engenheiros florestais

            Os dias dramáticos que se viveram com os incêndios florestais na Madeira, a juntar a realidades trágicas ainda recentes que bem conhecemos, colocam, mais uma vez, o dedo numa ferida que o país teima em ignorar.

            Na comunidade científica, tem sido frequente a alusão a uma tipologia de “incêndios de sexta geração”, também designados por “tempestades de fogo”, fenómenos associados às alterações climáticas, que modificam a meteorologia no território, geram ventos erráticos, stress hídrico nos espaços florestais, o que aumenta a velocidade de propagação do fogo em todas as frentes.

Realidades novas impõem estratégias novas. Impõe-se uma visão de futuro para as especificidades do território. O Interior, abandonado, desumanizado, está sob ameaça crescente nestes períodos tórridos de verão. A floresta portuguesa precisa de uma revolução com medidas alicerçadas no conhecimento técnico-científico.

Paradoxalmente, assistimos ao abandono dos cursos de Engenharia Florestal no ensino superior. A Universidade de Lisboa (ISA) apenas conseguiu atrair sete candidatos na 1ª fase do concurso nacional de acesso. A UTAD e o Politécnico de Coimbra conseguiram, cada um, apenas dois. Está visto que os jovens fogem desta profissão como o diabo da cruz, apesar da necessidade acentuada dos agentes económicos na busca de tais profissionais. Por isso, não há desemprego. O que haverá é uma falta de comunicação ou motivação por parte das instituições com responsabilidades no processo. Adivinha-se, assim, um futuro ainda mais amargo para a floresta, com a falta destes profissionais.

Porque será que as áreas afins, como é o caso dos cursos de Biologia, têm grande adesão de alunos, quando se sabe (ou deveria saber) que a Engenharia Florestal é hoje uma Biologia Aplicada ao território e o seu papel é gerir todos os recursos naturais que nele existem e a sua biodiversidade?

Já é tempo de a floresta a ser notícia, não como um mundo de problemas, mas como um mundo de oportunidades.

(AP)

In Jornal de Notícias, 27-8-2024