Os dias dramáticos que se viveram com os incêndios
florestais na Madeira, a juntar a realidades trágicas ainda recentes que bem
conhecemos, colocam, mais uma vez, o dedo numa ferida que o país teima em
ignorar.
Na comunidade científica, tem sido frequente a alusão a
uma tipologia de “incêndios de sexta geração”, também designados por
“tempestades de fogo”, fenómenos associados às alterações climáticas, que
modificam a meteorologia no território, geram ventos erráticos, stress hídrico
nos espaços florestais, o que aumenta a velocidade de propagação do fogo em
todas as frentes.
Realidades novas impõem estratégias novas. Impõe-se uma visão de futuro
para as especificidades do território. O Interior, abandonado, desumanizado,
está sob ameaça crescente nestes períodos tórridos de verão. A floresta
portuguesa precisa de uma revolução com medidas alicerçadas no conhecimento
técnico-científico.
Paradoxalmente,
assistimos ao abandono dos cursos de Engenharia Florestal no ensino superior. A
Universidade de Lisboa (ISA) apenas conseguiu atrair sete candidatos na 1ª fase
do concurso nacional de acesso. A UTAD e o Politécnico de Coimbra conseguiram,
cada um, apenas dois. Está visto que os jovens fogem desta profissão como o
diabo da cruz, apesar da necessidade acentuada dos agentes económicos na busca
de tais profissionais. Por isso, não há desemprego. O que haverá é uma falta de comunicação ou motivação por parte das
instituições com responsabilidades no processo. Adivinha-se, assim, um futuro ainda
mais amargo para a floresta, com a falta destes profissionais.
Porque será que as áreas afins,
como é o caso dos cursos de Biologia, têm grande adesão de alunos, quando se
sabe (ou deveria saber) que a Engenharia Florestal é hoje uma Biologia Aplicada
ao território e o seu papel é gerir todos os recursos naturais que nele existem
e a sua biodiversidade?
Já é tempo de a floresta a ser notícia, não como um mundo de problemas,
mas como um mundo de oportunidades.
(AP)
In Jornal de Notícias, 27-8-2024