Desde que ingressei no mundo do
jornalismo, em 1976, vi desaparecerem títulos de jornais que eram verdadeiros
monumentos nacionais: a “República” em 1976, o “Século” em 1977, o “Jornal do
Comércio” em 1985, o “Diário de Lisboa” em 1990, “O Diário” também em 1990, o
“Diário Popular” em 1991, “O Primeiro de Janeiro” em 1991, “A Capital” em 2005
e, finalmente, também em 2005, “O Comércio do Porto” que atingia então 151 anos
de vida, um jornal a que entreguei os melhores anos da minha juventude:
primeiro estagiário, depois repórter, depois redator.
Saí em 1999, mas ainda hoje o
retenho como a melhor escola de vida que tive. O que aprendi nas universidades
que frequentei eram medronhos comparados com as framboesas que colhi naquela
escola. Aprendi a enfrentar e a denunciar políticos
corruptos, mentirosos e hipócritas, assim como bandidos, violadores, ladrões de
estrada. Por isso, tantas vezes assentei praça nos tribunais como repórter e
como réu. Depois, o jornal fechou e pronto. A sua morte foi
acompanhada da mais impávida indiferença por parte dos meios culturais, políticos
e económicos. Foi então que comecei a perceber que este Portugal já não era o
mesmo. Um país que vê jogar fora um dos mais valiosos monumentos à cultura e à
memória coletiva, e fica a assobiar para o lado, é um país a seguir um rumo
estranho.
E agora temos as ameaças que pairam
sobre o “nosso” JN, um dos últimos pilares do jornalismo de qualidade que se
faz em Portugal. Perante os tempos tumultuosos que se conhecem em torno da
sobrevivência do jornal, é de recear, no mínimo, a perda de uma identidade
consolidada nos três séculos que percorreu, desde 1888.
Neste despontar de um Novo Ano, aqui
manifesto os meus votos de que uma nova aurora permita que a luta dos
jornalistas do JN pelos seus direitos não esmoreça. De contrário, nos trilhos
de um jornalismo de qualidade, quem ficará para levar a carta a Garcia?
(ap)