O que vemos, ouvimos e lemos traz-nos o retrato de um país enleado no desgoverno de líderes e decisores que, em seus atos desorientados, vêm ensombrar os horizontes de esperança que um novo ciclo de oportunidades vinha alimentando. Portugal, assim, mais parece um país-caravela, que navega à deriva em águas turbulentas, na busca, desesperada, de uma âncora que quanto mais se deseja mais ela tarda.
Pior que tudo ainda é assistirmos à destruição dos seus alicerces: a educação. É vergonhoso o trato a que está sujeita uma das classes profissionais mais imprescindíveis do país. A desautorização, o desrespeito, a humilhação, nas escolas e na sociedade, o congelamento de carreiras, as estranhas regras de mobilidade, a terrível burocracia a recair sobre os professores, as turmas e horários sobrecarregados, a violência impune nas escolas… vêm tornando o exercício da profissão de professor numa verdadeira tortura, não se vislumbrando, mau grado a profusão de greves e manifestações, sinais animosos de compreensão e justiça por parte de quem tem o poder de governar e decidir.
Ainda
assim, os professores conseguem fazer milagres, ser inventivos, contrariando as
desventuras de um sistema que lhes retira direitos de ano para ano, de um
sistema inibidor do entusiasmo e da criatividade. E continuam a obter
resultados, a plantar sorrisos entre as crianças, a abrir rumos de esperança no
seio dos jovens.
Queiramos
que, neste malbaratar de oportunidades e de bom senso, haja ainda uma réstia de
decoro, e que a heroica resistência dos professores, com tantos sacrifícios já
sofridos, permita, finalmente, recuperar a paz e a esperança de que a educação
em Portugal tanto carece. E convençamo-nos de que, se ainda há esperança para
Portugal, ela está na educação.
ap
in JORNAL DE NOTÍCIAS, 31-5-2023