sexta-feira, 29 de abril de 2022

Marcelino de Sousa Lopes: o descanso do guerreiro

 


Este meu amigo do peito acaba, finalmente, de depor as armas. Após tantos e tantos anos de luta como professor da UTAD, animador cultural, investigador, autor de obras de estudo e de referência, dinâmico conferencista e organizador de congressos, chegou a hora de jubilar-se. Doutorou-se na Universidade de Salamanca, após um percurso pessoal e profissional dos mais interessantes e singulares, emocionantes até, que conheço.

Começou, ainda adolescente, por trabalhar num bar onde a malta do liceu de Vila Real se reunia para estudar e fazer os trabalhos. Eu era um deles. O Marcelino, enquanto servia um fino aos rapazes e uma crista de galo às raparigas, ia lançando os olhos, perspicazes e indagadores, às nossas sebentas, ouvia-nos falar dos grandes filósofos Kant, Marx, Hegel e dos grandes escritores e seus cânones literários… e, sempre que podia, metia também a sua “colherada” nas discussões. Pouco a pouco, enquanto frequentava as aulas noturnas no liceu, já era ele que nos tirava as dúvidas nas mesas do bar.

Subiu a pulso já se vê. Degrau a degrau, a trabalhar e a estudar, fez o ensino secundário, depois o bacharelato, depois a licenciatura e por fim o doutoramento. Sem nunca pisar ninguém. Sem nunca perder a humildade e a bonomia do seu carácter. Trabalhou como animador sociocultural no extinto FAOJ, depois Instituto Português da Juventude, antes de começar a dar aulas na UTAD, nas áreas em que, aos poucos, se foi especializando. Respeitado e acarinhado pelos seus alunos, que a ele recorrem em busca de conselhos e orientações académicas, produziu ciência em importantes áreas, como as teorias da animação sociocultural, educação de adultos, necessidades educativas especiais, expressão dramática, animação teatral, formação de animadores culturais. Organizou e dinamizou congressos, escreveu dezenas de artigos científicos e escreveu e editou obras de referência, tornando-se ele próprio, nos dias de hoje, uma das principais referências em Portugal no estudo da Animação Sociocultural.

Um forte abraço e muita força para a nova caminhada.

(ap)