Há menos de um mês, o Presidente da
República condecorou, com a medalha de mérito, o jovem guineense Braima Dabó, aluno do
Instituto Politécnico de Bragança (IPB) e atleta de alta competição, que, num
gesto de singular humanidade, emocionou o mundo na final das provas do Campeonato
do Mundo de atletismo, no Qatar. As
imagens correram as TV’s e redes sociais de todos os continentes e falaram por
si: nos últimos metros da etapa, ao notar num adversário do Caribe sinais de
quebra física e dificuldades em manter-se de pé, o jovem guineense recuou para
o amparar e carregá-lo até à meta, sacrificando a sua própria prova. Não ganhou
então qualquer medalha. Mas foi sagrado campeão mundial de carácter,
solidariedade, humanidade e generosidade, sentimentos que tanta falta fazem hoje
no desporto e na cidadania.
Trás-os-Montes e, em especial, Bragança rejubilaram de
orgulho. Braima Dabó é mais um das largas centenas
de estudantes que, anualmente, viajam dos países
lusófonos de África para Portugal, cheios de sonhos e projetos, em busca de um
rumo que venha a contribuir para a melhoria do futuro dos seus países. Muitos
destes jovens estudam no IPB em Bragança e em Mirandela. Trazem vida,
cultura, alegria e renovação a estas cidades, nelas depositando o que há de
mais virtuoso no conceito de multiculturalidade. Bragança e Mirandela
orgulham-se do acolhimento a estes jovens.
Paradoxalmente, poucas semanas após esta condecoração, um
outro jovem africano, de Cabo Verde, Luís Giovani dos Santos Rodrigues, Giovani
para os amigos, aluno da licenciatura em Design e Jogos Digitais na ESACT -
IPB, em Mirandela, foi espancado numa rua de Bragança, do que resultou a sua
morte. Também ele demandou esta região com o mesmo sonho. Os seus amigos e
colegas estão de rastos, assim como toda a comunidade do IPB.
Para a tarde do próximo sábado (dia 11), está anunciada
uma marcha de homenagem à sua memória nas ruas de Bragança. No respeito dos
valores sagrados da tolerância e da paz que partilhamos, é desejável que os
responsáveis de tal ato estejam já sob a alçada da justiça. Que o silêncio se
não abata sobre este caso. Nada é pior do que o silêncio e, com ele, o ódio
silencioso de quem busca na angústia o seu refúgio.
(AP)