A contrariar as melhores expectativas
primaveris, cá temos de novo a chuva e o frio. Muitos se surpreendem com esta
episódica invernia, mas o povo não. Povo sábio, visionário e profeta. Gente que
já viveu muitos maios, e, por isso, sabe bem porque diz o que diz quando diz:
«Ruim é o maio que não rompe uma croça». Assim se sentencia no Barroso e
Montesinho. Mas se for no Douro: «Em maio comem-se as cerejas ao borralho».
Comem-se quando as há. Este ano, parece que não. E sabe-o bem o povo quando
diz: «Cerejas de maio, ou as leva a chuva, ou as leva o gaio». Portanto,
tratando-se de chuva, saiba-se que o maio é só um tudo-nada melhor que abril.
Daí que se diga: «Uma água de maio e três de abril valem por mil». E quanto ao
frio, também ele não é imprevisível. Por isso, diz a velha: «Em maio, nem à
porta saio». Mas melhor, melhor, é que seja pardo e chuvoso («Maio pardo e
chuvoso faz um ano rendoso»). Ainda assim, há de ser uma chuva que só molha
tolos. Diz o povo «Maio me molha, maio me enxuga». E nem as trovoadas são de
inquietar. Pelo contrário: «Maio que não dê trovoada, não dá coisa estimada». O
que vale o mesmo que dizer: «Maio sem trovões é como burro sem…» (deixo a rima
para vozes mais afoitas e inspiradas). AP
Bibliografia: PARAFITA, a; et. al. (2007). Os
Provérbios e a Cultura Popular, Porto: Gailivro.