terça-feira, 15 de setembro de 2015

Vindima molhada… pipa logo despejada

 
Pela minha costela de lavrador do Douro, irritam-me sempre os temporais, como os que estão aí, que tanto embaraçam as nossas vindimas. Ainda que as velhas sentenças adociquem o embaraço (“Vindima molhada, colheita abençoada”), inquieta-me mais estoutra: “Vindima molhada, pipa logo despejada”.
 
Mas, em boa verdade, o homem do Douro está de sobreaviso. E sabe orientar-se: “Em setembro, a palha pró palheiro e as meninas pró candeeiro”; ou então: “Se em setembro a cigarra cantar, não compres trigo para guardar”.
 
E quanto às cautelas na vindima, a velha sabedoria também diz: “Se o agosto seca os montes, vem o setembro que leva açudes e pontes”. Por isso, há que começar cedo com ela. Dizem os antigos: “Se não vindimas até ao S. Mateus [dia 21], só por milagre de Deus” (e “Depois do S. Mateus, faz as contas às ovelhas, que os borregos não são teus”).

Não esquecendo também a cantiga  que ouvi do povo:

«Se foi cedo o vindimar,
Maria, isso o que tem?
Com a uva no lagar
Já não ma rouba ninguém.»

[Para conhecer um pouco mais sobre saberes do povo, o livro «Os Provérbios e a Cultura Popular», Porto, Gailivro, 2007]
(ap)