Deixou de se publicar a 31 de julho de 2005 (faz hoje 10 anos). Teria agora
161 anos. Era o mais antigo jornal do continente
português e a sua morte foi acompanhada da mais impávida indiferença por parte
dos meios culturais, políticos e económicos. Muitos de nós aprendemos a soletrar nas páginas deste jornal.
Muitas vezes o li em bicos de pés tentando chegar ao balcão da velha mercearia,
na aldeia onde vivi, no Alto Douro. Os olhos sugavam as notícias com o ímpeto
de quem procura, ousadamente, descobrir um mundo que está para além da nossa
rua, dos nossos vinhedos, da nossa terra.
Mais tarde, nos melhores anos da minha juventude, deixei ficar para trás a
profissão de professor primário e para lá entrei como jornalista estagiário,
depois repórter, depois redator. Entreguei a este jornal mais de 15 anos da
minha vida. Saí em 1999. Ainda hoje o retenho como a melhor escola de vida que
tive. O que aprendi nas universidades que frequentei foram medronhos comparados
com as framboesas que ganhei naquela escola.
Nele escreveram (antes de mim) Camilo Castelo Branco, Carolina Michaëlis,
Guerra Junqueiro, João de Deus, Rodrigues de Freitas, Joaquim Augusto Pires de
Lima, Rebelo da Silva, Pinheiro Chagas, Maria Amália Vaz de Carvalho, Alberto
Pimentel, Júlio Dantas, Henrique Lopes de Mendonça, Afonso Lopes Vieira,
António Correia de Oliveira, Augusto Gil, Fialho de Almeida, Ramalho Ortigão e
o próprio rei D. Carlos e a rainha D. Amélia…
Mas… o jornal fechou e pronto. Só ainda não entendi como pôde um país ver
jogar fora um dos seus mais valiosos monumentos à cultura e à memória coletiva,
e ficar a assobiar para o lado.
(ap)