Pobre país precário este, com uma fasquia tão baixa!
Irrita-me ver tanto “foguetório” para o tão pouco que se tem para oferecer aos
nossos jovens: estágios, atrás de estágios, que nem chegam a ser a simples
ilusão de um posto de trabalho. Ainda que haja boas qualidades demonstradas,
desempenhos exemplares, a opção voltará a ser, no fim, o recurso a um novo estágio,
numa rotação infinda. Pelo meio, o assédio moral a pesar sobre o lado mais
frágil deste jogo, e a realidade incontornável de um país com 300 mil jovens
desempregados.
Há que recuperar o sentido nobre e esperançoso que um
estágio curricular e profissional vinha tendo na carreira de um jovem. Estou
solidário no combate ao abuso e banalização dos estágios e das leis absurdas
que os sustentam, e não me conformo vendo o país caminhar para uma nação decrépita,
com
pessoas idosas arrastando-se penosamente nos empregos e a sonhar com o oásis de
uma aposentação cada vez mais longínqua, enquanto os jovens, cheios de energia,
bem preparados, bem formados, inovadores, são enxotados das oportunidades de
trabalho efetivo como se de uma praga se tratasse.
Sempre procuro incutir nos meus alunos estímulos de
esperança num futuro melhor, mas já não me admira que o grande sonho de quase
todos seja mesmo procurarem esse futuro bem longe do seu país.
(AP)
In JORNAL DE NOTÍCIAS, 1-5-2015