(Artur Domingues Gonçalves, de Santa Valha,
Valpaços, um dos últimos
regedores transmontanos. Foto de Amílcar Rôlo)
Muitos deles andaram na 1ª Grande Guerra,
onde chegaram a cabos e a sargentos, e, regressados às suas aldeias, vinham com
um prestígio reforçado. Logo, ninguém lhes negava a autoridade. Usavam, e sabiam
usar, armas. Queixas de desacatos era com eles, resolviam-nas muitas vezes à
lambada. Tinham poderes para prender e castigar os faltosos quando estes
revelavam comportamentos cívicos impróprios. Era roubos de lenha, estupro de
raparigas, grandes bebedeiras, cabras que comiam videiras alheias, disputas de
regos de água, passagens em caminhos particulares. Podiam entrar na casa de
qualquer pessoa. Em desacatos conjugais faziam de conselheiros matrimoniais. Zelavam
pelos bens e tranquilidade das freguesias, atestavam bons comportamentos e
sanidades mentais, não tinham ordenado, quando era preciso prender alguém eram
responsáveis pelo preso, levavam-no a pé até à vila mais próxima, ou, sendo à
noite, guardavam-no em suas casas, vigiando-o com a ajuda da mulher e filhos
até o apresentarem à guarda republicana. Por vezes eram assessorados por “cabos
de polícia” ou “cabos de regedor”. No tempo da 2ª guerra, o tempo da fome, em
que a comida era racionada, a cada família era distribuído certo número de
senhas, cabendo ao regedor essa distribuição.
Alguns
havia que tinham um gosto especial pelo mando. Como um de que outrora se falava
em Sabrosa. Contavam
os antigos que havia numa aldeia um padre que tinha fama de mulherengo. Antes
das moças casarem, costumava ter grandes conversas com elas, e às vezes
excedia-se um bocado. Algumas não gostavam nada, está bem de ver, mas outras
nem se importavam. Até porque o padre – costumava dizer-se – é uma amostra de
Deus. O pior é que nessa mesma aldeia havia ainda um daqueles regedores que
gostavam de mandar em tudo. Nos cabos de polícia, nos bêbados, mas sobretudo
nos padres. E como ele conhecia bem este, mais as suas artimanhas, roía-se de
inveja pelos sucessos que o padre tinha junto das mulheres. Dizia-se então que,
quando era para atestar o documento de casamento das moças, o regedor escrevia
assim: “Atesto por trás o que o senhor
padre já atestou pela frente”
Alexandre Parafita