Contavam
os antigos que o Zé do Telhado, numa ocasião, passou em Sabrosa, com o seu
pessoal, e aprontava-se para assaltarem a casa de uma quinta por lhes parecer
que era de gente abastada. E como vinham com as barrigas vazias, o que mais
pretendiam era tirá-las de misérias, esperando ali encontrar, no mínimo, uma boa
refeição. Porém, ao chegarem ao terreiro, saiu-lhes, do alto da escadaria da
casa, uma velhota com uma selha cheia de lavagem para os porcos e mandou-a
sobre eles dizendo:
–
Tomai lá, que daqui é só o que levais!
O
Zé do Telhado volta-se então para os seus homens e diz:
– Vamos
embora, rapazes, que estes ainda são mais pobres que nós!
Desistiram
do assalto e foram matar a fome a outro lado.
Nota:
Acho que me vou lembrar sempre desta lenda em dias como hoje, em que me vejo
assaltado e indefeso. Afinal, à vista dos que nos estão a vir ao bolso, com mãos
de gato e com tão bondosas intenções, estou que o Zé do Telhado ainda há de ser canonizado.
Alexandre Parafita