Por
estes dias, correm o mundo notícias sobre os novos bens culturais que a UNESCO acaba
de classificar como Património Cultural Imaterial da Humanidade. De entre eles,
realça-se o “Frevo” do Brasil e os “Diabos Dançantes” da Venezuela. O primeiro
é uma dança particularmente conhecida no estado de Pernambuco que alguns
consideram uma variante da “Capoeira”, e o segundo é um ritual com origens
ibéricas representado por figuras diabólicas nas procissões.
É
de assinalar que esta última manifestação tem tradições em Portugal. Há memória
da incorporação de diabos, serpes e cocas, nas procissões do “Corpus Christi”, especialmente
em Amarante (uma famosa tela de Amadeu de Sousa Cardozo testemunha isso mesmo).
De resto, em Amarante ainda hoje decorre a conhecida “Procissão dos Diabos” (na foto),
que chega a incorporar mais de 300 figuras de diabos e diabas com os seus trajes
vermelhos e negros, oferecendo um quadro ritual de grande energia lúdica e
identitária que atrai muitos milhares de visitantes.
Porém,
Portugal não é o Brasil nem a Venezuela. O analfabetismo cultural que impera em
alguns gabinetes de Lisboa jamais compreenderá o que está em jogo nestes
rituais. Só de lembrar a indiferença com que, na capital, foi tratado o
projecto para classificar o Património Imaterial Galego-Português (onde
entravam os rituais festivos do Ciclo de Inverno e os famosos “Caretos de
Podence”), ficamos com a sensação de que esta maré “kultural” não levará a
porto algum.