sábado, 8 de dezembro de 2012

Por falar em Património Cultural Imaterial


Por estes dias, correm o mundo notícias sobre os novos bens culturais que a UNESCO acaba de classificar como Património Cultural Imaterial da Humanidade. De entre eles, realça-se o “Frevo” do Brasil e os “Diabos Dançantes” da Venezuela. O primeiro é uma dança particularmente conhecida no estado de Pernambuco que alguns consideram uma variante da “Capoeira”, e o segundo é um ritual com origens ibéricas representado por figuras diabólicas nas procissões.
É de assinalar que esta última manifestação tem tradições em Portugal. Há memória da incorporação de diabos, serpes e cocas, nas procissões do “Corpus Christi”, especialmente em Amarante (uma famosa tela de Amadeu de Sousa Cardozo testemunha isso mesmo). De resto, em Amarante ainda hoje decorre a conhecida “Procissão dos Diabos” (na foto), que chega a incorporar mais de 300 figuras de diabos e diabas com os seus trajes vermelhos e negros, oferecendo um quadro ritual de grande energia lúdica e identitária que atrai muitos milhares de visitantes.
Porém, Portugal não é o Brasil nem a Venezuela. O analfabetismo cultural que impera em alguns gabinetes de Lisboa jamais compreenderá o que está em jogo nestes rituais. Só de lembrar a indiferença com que, na capital, foi tratado o projecto para classificar o Património Imaterial Galego-Português (onde entravam os rituais festivos do Ciclo de Inverno e os famosos “Caretos de Podence”), ficamos com a sensação de que esta maré “kultural” não levará a porto algum.
Alexandre Parafita
in Diário de Trás-os-Montes